O Trovadorismo é o movimento artístico que ficou conhecido por dar início às criações literárias portuguesas. Apesar de não ser uma literatura impressa, ele foi fortemente transmitido oralmente com o intuito de criticar problemas que assolavam a sociedade medieval ou até mesmo para expressar sentimentos amorosos, principalmente relacionados à figura feminina.
As cantigas trovadorescas surgiram na Idade Média, quando o clero exercia forte influência política e cristã. A imposição religiosa apoiada à força militar fez com que a igreja expandisse seu poder. Com o restringimento da leitura e escrita ao sacerdócio e a alguns nobres, a produção literária teve maior desenvolvimento na linguagem oral. A partir disso, surgiu o Trovadorismo.
É fato que os trovadores foram artistas muito importantes para o entretenimento do povo medieval. Suas cantigas tinham características próprias do período, tal como o "canso", que era a forma de verso mais usada, estruturada em cinco ou seis estrofes. Eles também usavam a “dansa” ou “balada” que é constituída em uma música dançante com refrão.
Geralmente, as “canções de trovadores” ou “musicadas” eram monofônicas (uma única linha melódica sem acompanhamento) e, em muitos casos, a melodia não era produzida pelo próprio poeta. Além disso, as cantigas eram divididas em quatro tipos: de amor, de amizade, de escárnio e de maldizer.
A seguir, explicaremos o que foi cada uma delas e sua influência para o contexto social da época.
Ilustração do amor platônico nas cantigas de amor.
Bernal de Bonaval: A dona que eu am’e tenho
A dona que eu am'e tenho por Senhor
amostrade-me-a Deus, se vos en prazer for,
se non dade-me-a morte.
A que tenh'eu por lume d'estes olhos meus
e porque choran sempr(e) amostrade-me-a Deus,
se non dade-me-a morte.
Essa que Vós fezestes melhor parecer
de quantas sei, a Deus, fazede-me-a veer,
se non dade-me-a morte.
A Deus, que me-a fizestes mais amar,
mostrade-me-a algo possa con ela falar,
se non dade-me-a morte.
Nas cantigas de amizade, a figura feminina era muito marcante.
De forma geral, as cantigas de amizade evidenciam um amor concreto entre pessoas do campo. Apesar do eu lírico ser feminino, o compositor é masculino. Nesse tipo de cantiga, a figura feminina é muito marcante e, além de representar uma "amiga", também pode representar uma “mãe” ou uma “irmã”. Já os versos, eles costumam ser compostos em redondilha menor (cinco sílabas poéticas). Exemplo:
D. Dinis: O meu amig’, amiga, nom quer’ eu
O meu amig’, amiga, nom quer’ eu
que haja gram pesar nem gram prazer,
e quer’ eu este preit’ assi trager
ca m’atrevo tanto no feito seu:
nom o quero guarir nem o matar,
nem o quero de mi desasperar.
Ca se lh’eu amor mostrasse, bem sei
que lhi seria end’ a tam gram bem
que lh’haveriam d’entender por em
qual bem mi quer, e por em esto farei:
nom o quero guarir nem o matar,
nem o quero de mi desasperar.
E se lhi mostrass’ algum desamor
nom se podia guardar de morte
tant’ haveria em coita forte;
mais por eu nom errar end’ o melhor,
nom o quero guarir nem o matar,
nem o quero de mi desasperar.
E assi se pode seu tempo passar
quando com prazer, quando com pesar.
Ilustração de D. Dinis, rei de Portugal e trovador.
As cantigas de escárnio foram criadas para ironizar e criticar os problemas da Idade Média. Quando uma pessoa é criticada na composição da cantiga, ela não é identificada explicitamente. Veja a seguir um exemplo de uma cantiga de escárnio:
João Garcia de Guilhade: Ai, dona fea, foste-vos queixar
Ai dona fea! Foste-vos queixar
Que vos nunca louv'en meu trobar
Mais ora quero fazer un cantar
En que vos loarei toda via;
E vedes como vos quero loar:
Dona fea, velha e sandia!
Ai dona fea! Se Deus mi pardon!
E pois havedes tan gran coraçon
Que vos eu loe en esta razon,
Vos quero já loar toda via;
E vedes qual será a loaçon:
Dona fea, velha e sandia!
Dona fea, nunca vos eu loei
En meu trobar, pero muito trobei;
Mais ora já en bom cantar farei
En que vos loarei toda via;
E direi-vos como vos loarei:
Dona fea, velha e sandia!
As cantigas de maldizer são cantigas que criticam a sociedade utilizando uma linguagem ofensiva e de baixo calão. Ao contrário da cantiga de escárnio, quando uma pessoa é criticada na composição, ela é identificada explicitamente. Entenda mais sobre o tema com o exemplo abaixo:
Afonso X: Ansur Moniz, muit'houve gram pesar
Ansur Moniz, muit'houve gram pesar
quando vos vi deitar, aos porteiros,
vilanamente d'antr'os escudeiros;
e dixe-lhis logo, se Deus m'ampar:
- Per boa fé, fazêde-lo mui mal,
ca Dom Ansur, onde m'el meos val,
vem dos de Vilan'Ansur de Ferreiros!
E d'outra parte vem dos d'Escobar
e de Campos, mais nom dos de Cizneiros,
mais de Lavradores e Carvoeiros;
e doutra veo: foi dos d'Estepar;
e d'Azeved'ar é mui natural,
u jaz seu padr'e sa madr'outro tal,
e jará el e todos seus herdeiros.
E sem esto, er foi el gaanhar
[mui] mais ca os seus avoos primeiros;
e comprou fouces, terra e [o]breiros,
e Vilar de Paos ar foi comprar
pera seu corp', e diz ca nom lh'en cal
de viver pobre, ca quem x'a si fal,
falecer-lh'-a[m] todos seus companheiros.
Retrato do travador Afonso X, também conhecido como " o Sábio".
Palavras-chave: literatura barroca; musica medieval; Trovadorismo autores e obras; cantigas de roda.
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